No Brasil, a cada sete horas uma mulher é vítima de feminicídio, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2024, foram registrados mais de 300 mil casos de violência doméstica em todo o país, o que reforça a urgência de ações de prevenção, conscientização e apoio às vítimas. Dentro dessa perspectiva, o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), realizou nesta sexta-feira (8), uma palestra sobre o tema, voltada a pacientes e acompanhantes do setor de hemodiálise.
A atividade integra as ações do Agosto Lilás, mês dedicado à prevenção e ao combate desse tipo de violência. A palestra foi conduzida pela assistente social, Neuma Oliveira, que trouxe um alerta importante: a violência doméstica nem sempre atinge apenas a mulher. “Esse tipo de violência pode acontecer dentro do lar não apenas contra a mulher, mas também contra os filhos, netos e a família em geral. É preciso estar atento e agir”, destacou.
Neuma ressaltou que as mulheres têm proteção garantida por lei e precisam se sentir seguras para se manifestar: “Essas pessoas podem dizer não. A maioria da violência sexual, física e psicológica à mulher acontece porque ela não aceita certos tipos de abordagem do homem. E esses homens se acham no direito de manipular o psicológico da mulher e querer que elas façam o que é determinado por eles. As mulheres são acobertadas por lei e podem manifestar suas próprias vontades,” destacou.
A assistente social também explicou sinais que caracterizam a violência doméstica e que muitas vezes passam despercebidos ou são naturalizados, como gritos e agressões verbais, menosprezo diante de amigos ou familiares, empurrões, tapas, agressões físicas mais graves e feminicídio.
Segundo Neuma, o homem que começa com pequenos gestos de violência pode chegar a praticar o feminicídio. Ela também alertou que muitas vítimas dão entrada em hospitais camuflando o motivo real das lesões. “Dizem que caíram da escada ou bateram o rosto na parede, mas na verdade são marcas da violência sofrida”, disse.
O objetivo da palestra, segundo a profissional, é alertar para a possibilidade da violência dentro de casa e incentivar denúncias. “Vamos nos unir mais, mulheres. Plantar a semente. É assim que conseguimos diminuir as estatísticas de morte e violência no Brasil,” lembrou.
Uma acompanhante, moradora de Araruna-PB, vítima de violência doméstica, compartilhou sua história, pedindo para não ter seu nome divulgado e destacou que a palestra é muito importante. “A gente não tem que se calar, mas sim falar o que sente, o que acha. Não podemos nos calar diante de uma situação dessa. Todos os dias vemos relatos de violência contra a mulher e temos que procurar ajuda. Se a gente se cala, a gente consente. A mulher não precisa ser espancada, mas tratada com amor e carinho”, advertiu.
Ela relatou ter vivido por seis anos com o agressor e sofrido um ano de violência constante, que começou de forma verbal e evoluiu para agressões físicas, inclusive durante a gravidez. “Eu dependia financeiramente dele. Passei pela agressão grávida da minha segunda filha. Era para ter me separado há mais tempo. Hoje me libertei dessa opressão e sinto orgulho da pessoa que sou. Casei novamente e tive mais dois filhos. Meu segundo companheiro me respeita”, destacou.
O caso dessa acompanhante, que reuniu provas e buscou ajuda pela Lei Maria da Penha, reforça a mensagem central da campanha: a violência contra a mulher precisa ser denunciada e combatida com informação, apoio e união.