Bebê nasce de embrião de 1994 e reacende debate sobre reprodução assistida

O nascimento de um bebê nos Estados Unidos, gerado a partir de um embrião congelado há mais de 30 anos, surpreendeu a comunidade médica internacional e quebrou o recorde anterior de embrião mais antigo a resultar em um nascimento saudável. A criança foi concebida a partir de um embrião doado anonimamente e mantido em criopreservação desde abril de 1994 — ano em que o Plano Real foi lançado no Brasil e o uso de celulares ainda era incipiente no mundo.

O feito científico trouxe à tona discussões sobre os limites e as possibilidades da fertilização in vitro, além de implicações éticas e jurídicas da criopreservação de embriões por períodos tão longos, é o que reforça a embriologista paraibana, Dra. Salomé Espínola, referência em reprodução assistida internacional, ao destacar a importância do controle rigoroso de qualidade e das normas de segurança em laboratórios especializados.

“Do ponto de vista biológico, o congelamento preserva a viabilidade do embrião de forma bastante eficaz. O que impressiona neste caso não é apenas o tempo de criopreservação, mas o fato de que ele foi feito com uma técnica mais antiga, anterior ao congelamento ultrarrápido (vitrificação), que só se popularizou nos anos 2000”, explica a especialista.

O embrião foi congelado por meio da técnica de congelamento lento, que hoje é menos comum, mas ainda considerada segura. A transferência para o útero ocorreu com sucesso, resultando em um parto saudável, mesmo após três décadas.

“Esse nascimento nos lembra que os embriões, se corretamente armazenados, podem ter seu potencial de desenvolvimento preservado por tempo indeterminado. É quase como se o tempo tivesse parado para esse embrião, que agora foi despertado para a vida”, disse Dra. Salomé, emocionada com o avanço da ciência.

Para a especialista, o caso também abre espaço para reflexões sociais e éticas importantes.
“Devemos pensar: até quando é ético manter um embrião congelado? Quem tem o direito de decidir sobre o destino desses embriões? Essas são questões que ultrapassam o campo técnico e exigem diálogo entre ciência, direito e sociedade”, pondera.

No Brasil, a resolução do Conselho Federal de Medicina permite que embriões fiquem congelados por tempo indeterminado, desde que haja consentimento dos genitores. Porém, o número de embriões armazenados nos bancos cresce a cada ano, exigindo políticas claras para descarte, doação ou uso em pesquisa.

“É fundamental que os casais sejam orientados sobre todas as possibilidades futuras: congelamento, doação para outros pacientes, descarte e até uso científico. A tecnologia está avançada, mas o acompanhamento ético e emocional precisa caminhar junto”, destaca Dra. Salomé.

O nascimento do bebê mais velho do mundo é, sem dúvida, um marco da medicina reprodutiva. Mas também é um lembrete de que, além da ciência, há vidas e histórias envolvidas — e que cada uma delas merece respeito, cuidado e responsabilidade.