Avanço científico cria camundongos a partir de dois machos: marco pode transformar estudos sobre reprodução

Pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências, em Pequim, conseguiram um feito inédito: gerar camundongos saudáveis a partir do material genético de dois machos, sem a participação de uma fêmea. O avanço, realizado por meio de técnicas de edição genética como o CRISPR (técnica de engenharia genética que permite modificar o DNA), abre uma nova janela para o futuro da reprodução assistida e da medicina regenerativa.

A inovação científica superou desafios históricos ao conseguir editar com precisão regiões específicas do DNA chamadas regiões de controle de impressão genômica, responsáveis por regular a forma como os genes herdados do pai e da mãe se expressam. Com a modificação de cerca de 20 genes, os embriões biparentais masculinos finalmente conseguiram se desenvolver até a vida adulta.

Apesar da taxa de sucesso ainda ser considerada baixa — apenas sete dos 164 embriões sobreviveram — os camundongos gerados chegaram à fase adulta e, em alguns casos, conseguiram gerar descendentes, o que representa um marco na ciência da reprodução.
Para a embriologista e especialista em fertilidade, Dra. Salomé Espínola, o estudo é um divisor de águas. “Estamos diante de uma possibilidade que até pouco tempo era inimaginável. Embora ainda estejamos falando de experimentos com camundongos, o que se conquistou aqui pode mudar o olhar sobre casais homoafetivos e pacientes inférteis no futuro”, destaca.

 


A cientista também alerta para os limites atuais: “Por enquanto, o caminho para a aplicação em humanos é longo. Há muitas barreiras técnicas e, sobretudo, éticas. Mas a ciência avança com passos firmes — e esse foi um deles.”

Segundo os próprios autores da pesquisa, os animais que sobreviveram apresentaram algumas limitações, como infertilidade e tamanho corporal maior que o habitual, o que pode impactar sua qualidade de vida. Mesmo assim, os resultados reforçam a importância de compreender profundamente os mecanismos genéticos envolvidos na reprodução e no desenvolvimento embrionário.

“Cada nova descoberta nos aproxima de tratamentos mais personalizados, do entendimento sobre falhas de implantação e, quem sabe, de caminhos ainda não explorados na medicina reprodutiva”, completa Dra. Salomé.

Embora a aplicação em humanos ainda esteja distante, o estudo renova esperanças e coloca a genética em destaque nas discussões sobre o futuro da fertilidade e da formação de novas famílias.