Pesquisa mostra que 82% dos brasileiros acreditam que podem fazer diferença na luta contra corrupção

O Brasil é um dos países da América Latina e do Caribe onde a população mais acredita que um cidadão comum pode fazer a diferença na luta contra a corrupção, segundo a última edição regional da pesquisa “Barômetro Global da Corrupção”, divulgada nesta segunda-feira (23) pela organização Transparência Internacional.

Com um índice de 82%, o Brasil aparece em terceiro lugar em uma lista de 18 países, atrás de Bahamas (85%) e Costa Rica (84%) e acima da média geral da região, de 77% . Há dois anos, porém, os brasileiros chegaram a ocupar o primeiro posto no ranking.

A décima edição da pesquisa foi realizada entre janeiro de março deste ano, com mais de 17 mil pessoas em 18 países, pela organização de combate à corrupção que atua em mais de 100 países.

Os brasileiros são, ainda segundo o relatório, o povo que mais acredita que relatar corrupção pode levar a mudanças, com 57%. A média geral dos 18 países é de apenas 38%, e o índice mais baixo nesse quesito fica com a Venezuela, onde apenas 19% creem que adianta fazer uma denúncia.

Em muitos países, existe ainda um forte temor de retaliações. A Transparência Internacional cita El Salvador, Venezuela, Jamaica e Honduras como locais onde mais de 80% dos que responderam à pesquisa temem consequências caso denunciem casos de corrupção.

Corrupção em alta

Entre as principais conclusões desta edição do Barômetro, estão a de que a população da América Latina e Caribe enxerga uma alta na corrupção, apesar de uma onda de ações legais contra políticos de altos cargos, especialmente em países como a Guatemala e o Brasil, com a Operação Lava Jato ganhando destaque.

Mais da metade dos entrevistados diz que a corrupção está pior em seu país (53%, em média) e que o governo local está fazendo um trabalho ruim ao combatê-la (57%, também em média). Presidentes, primeiros-ministros e parlamentares são apontados como os mais corruptos e interessados em favorecer seus interesses particulares.

Outro ponto ressaltado é que a integridade política é menor em época de eleições, com relatos de oferta de compra de votos. Um em cada quatro entrevistados diz ter recebido alguma oferta para vender seu voto nos últimos cinco anos.

Questionados sobre suborno, mais de um em cada cinco entrevistados que acessaram serviços públicos no ano anterior admitiram ter pago suborno. O setor que mais exigiu e/ou recebeu propina foi a polícia.

Pela primeira vez, o relatório aborda também a questão da extorsão sexual como forma de corrupção, e constata que as mulheres são desproporcionalmente afetadas: um em cada cinco cidadãos já sofreu ou conhece alguém que sofreu esse tipo de extorsão ao acessar um serviço público.

Brasil

O relatório que acompanha os resultados da pesquisa destaca que o levantamento foi realizado durante os primeiros meses do governo do presidente Jair Bolsonaro, quando ainda era muito cedo para avaliar sua administração e sua plataforma eleitoral influenciava as expectativas dos eleitores.

O texto cita, porém, que “o presidente Bolsonaro tentou ampliar o escopo das informações classificadas para reduzir a transparência e deu pouca atenção às acusações de corrupção contra membros de seu gabinete”, entre outras ações, e que “esses desenvolvimentos sugerem que a confiança dos cidadãos na capacidade do governo de parar e impedir a corrupção deve em breve recuar”.

Questionados sobre os últimos 12 meses anteriores à pesquisa, 54% dos brasileiros entrevistados disseram que a corrupção aumentou no país, e 11% afirmaram ter pago algum tipo de propina em um serviço público.

Além disso, 20% responderam ter sido vítimas ou conhecer alguma vítima de extorsão sexual e 40% já receberam algum tipo de oferta para vender seu voto em uma eleição nos últimos cinco anos.

Em comparação com o levantamento anterior, feito em 2017, os brasileiros acham que o governo está fazendo um trabalho melhor no combate à corrupção: antes, 35% achavam que este era bom, e agora são 48%. Os que classificavam as ações como ruim caíram de 56% para 46% e os que não sabiam caíram de 9% para 6%.

Por outro lado, cresceu a margem de desconfiança em relação a categorias. A porcentagem dos que acreditam que “a maioria ou todas as pessoas nas seguintes instituições são corruptas” aumentou em todos os itens pesquisados (veja tabela abaixo).

Porcentagem dos que acreditam que 'a maioria ou todas as pessoas nas seguintes instituições são corruptas' — Foto: Fabiana de Carvalho/G1

Porcentagem dos que acreditam que ‘a maioria ou todas as pessoas nas seguintes instituições são corruptas’ — Foto: Fabiana de Carvalho/G1